
The price of modernity can be high for our evolutionary relatives
16 de abril, 2024
The Story of Yoko and My Reflection
3 de abril, 2025A história de Yoko e minha reflexão

Yoko - photo by Juliana Kihara
Por Jaqueline B. Ramos
Yoko é um chimpanzé macho e estima-se que nasceu em 1986. Entre tantos outros, foi vítima de tráfico. Provavelmente foi capturado na natureza, em algum lugar da África, ainda bebê, arrancado sem piedade dos braços de sua mãe, que certamente foi morta. Um ritual absurdo do mercado ilegal que, infelizmente, até hoje se repete.
Reduzido ao status de um artigo exótico de luxo, Yoko foi enviado para o outro lado do mundo. Parou na Colômbia, onde foi covardemente explorado na esfera inacessível do mundo de um narcotraficante. Foi subjugado, a ele foram impostos hábitos humanos deploráveis e aos poucos seu espírito se quebrou. Entrou em um limbo, deixando de ser um chimpanzé selvagem e perdendo sua essência. As consequências físicas: lhe restam poucos dentes e um problema de pele. Já as psicológicas, estas serão para sempre analisadas…
Yoko se encontra nesta “condição especial humanizada” até hoje. Após a exploração pelo narcotráfico, foi enviado para um circo até, no início dos anos 2000, ter sido resgatado na fronteira com a Venezuela. Passou a ser cuidado em um refúgio na cidade de Cali, e a vida de uma certa forma aquietou. Mas ele continuava sozinho e vivendo em uma situação de cativeiro não ideal, com poucos recursos.
Até que, em 2018, foi enviado para o Bioparque Ukumari, em Pereira, onde dois outros chimpanzés, Pancho e Chita, já residiam. A integração com eles não foi fácil ou romântica, mas foi o mais perto que Yoko havia conseguido chegar de sua espécie. Até que, abruptamente, em julho de 2023, os chimpanzés foram baleados após uma tentativa de fuga. Yoko deu passos atrás na sua chance de socialização e de ter uma vida minimamente digna de chimpanzé em cativeiro.
Para sua sorte, muitas pessoas estavam atentas e se importam. Justamente por isso, uma operação internacional inédita, envolvendo instituições públicas e privadas, viabilizou sua transferência, no dia 24 de março de 2025, para o Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, no interior de São Paulo, no Brasil. O local é o maior Santuário de Grandes Primatas da América Latina, afiliado ao Projeto GAP – Projeto dos Grandes Primatas.
Santuários na América Latina
Aqui peço licença para falar por experiência própria, pois sou colaboradora e parceira do GAP e dos Santuários há 17 anos. Com Yoko, o Santuário hoje se dedica a prover uma vida digna para 43 chimpanzés, todos com forte histórico de traumas e maus-tratos. Outros 32 já passaram e usufruíram os últimos anos de suas vidas sofridas sob os cuidados da equipe do Santuário. Eu, particularmente, me dediquei e me dedico a registrar a história de cada um destes indivíduos, o que pode ser visto no site do Projeto GAP Brasil.
O Santuário de Sorocaba, liderado pelo empresário brasileiro-cubano Dr. Pedro Ynterian, faz um trabalho imprescindível e necessário para abrigar e prover cuidados de longo-prazo a essa comunidade de chimpanzés que, por diferentes motivos e para surpresa de muitos, habita em cativeiro na América Latina. Vale também ressaltar o trabalho incrível do Instituto Conservacionista Anami, que mantém o segundo maior Santuário da América Latina, localizado no Paraná, sul do Brasil, onde vivem 27 chimpanzés e um orangotango.
Uma nova esperança para Yoko
A esperança agora é que Yoko se converta em mais uma história de sucesso no sentido da possibilidade de integração com outros chimpanzés. Com pouco mais de uma semana experimentando um espaço totalmente diferente do que já havia vivenciado, ele ainda se encontra em alerta, se adaptando, mas em progressivo relaxamento.
Yoko presta atenção na vocalização dos outros chimpanzés, que a esta altura já perceberam a chegada de um novo morador em sua casa, e aos poucos vai reconhecendo o espaço e demonstrando suas preferências. Após os 30 dias de quarentena, a equipe dará início, de uma forma muito cautelosa, ao processo de integração e socialização, que levará o tempo que for necessário para Yoko.
Como comunicadora envolvida na causa de direitos dos grandes primatas não humanos há muito tempo, a divulgação da história de Yoko é uma das diferentes formas de demonstrar a complexidade intrínseca da nossa relação com os animais e colaborar para que o público em geral se sinta mais informado e, consequentemente, sensibilizado a falar, agir a respeito e dar um passo a frente para um mundo mais justo. No final das contas, o que importa é que quando falamos em nome de animais, também falamos em nome das pessoas e do meio ambiente. É tudo indissociável.
De coração, desejo agora que Yoko encontre seu ponto de equilíbrio e usufrua da vida digna que merece. E que sua história inspire muitas outras e contribua para avanços, que passam por mudanças de visão, reflexão, dilemas éticos e morais, ações de punição e revisões de legislação. Continuo aqui comunicando, ajudando a divulgar esta e outras histórias. E atenta a muitas outras experiências que ainda virão.
Boa sorte, Yoko! Seja bem-vindo a nova jornada!