Por Ana Prôa*
Quando eu comecei a dar os meus primeiros passos profissionais como escritora, lá pelos idos dos anos 90, o caminho era esse: enviar o original para a editora, pelos Correios, e esperar cerca de três meses por uma resposta, que vinha por carta. Embora nunca tenha emplacado um livro meu dessa maneira (guardo, até hoje, algumas recusas), foi assim que consegui marcar o meu primeiro gol como ghost-writer: “Meditações para Gestantes”, da professora de ioga Fadynha, que foi aceito pela então recém-criada Sextante.
Até bem pouco tempo, este era o modus operandi do mercado editorial para abrir portas a um escritor iniciante – mas, claro, usando o e-mail. Na verdade, teoricamente, ainda costuma ser dessa forma que a banda toca. Se você entrar no site da Record, por exemplo, verá que o grupo está aberto a receber originais, e até fornece e-mails para envio. Porém, deixa claro que não há prazo para um feedback ao autor. Já a Companhia das Letras aceita originais duas vezes ao ano, à moda antiga: por correio! (A resposta segue por e-mail, em até seis meses.) Mas tem editora que nem dá mais essa chance ao escritor, como é o caso da Sextante. Em seu site, os pretendentes são orientados a procurar um agente literário.
Como se vê, a coisa está feia… Só que feio é pouco. O panorama atual para um autor iniciante está horroroso. Hoje, o mercado editorial vive um drama sem precedentes. Brasil em crise, brasileiro sem dinheiro por conta das altas taxas de desemprego… Isso gerou a queda no volume de vendas de livros. Para piorar, algumas livrarias deixaram de repassar (ou passaram a atrasar muito) o valor das vendas para as editoras. O resultado, para as casas editoriais, foi a necessidade de enxugar pessoal e o número de lançamentos ao ano.
O fato é que NUNCA foi fácil, para um autor iniciante, romper a barreira que o separava de uma editora. E agora está mais difícil ainda. Se o escritor não for um youtuber ou um influenciador digital com milhares de seguidores, está lascado! E sabe de quem eu ouvi isso? De uma agente literária, com quem tive uma sessão de coaching. Ou seja, paguei para ser lida, na esperança de um encaminhamento para alguma editora, mas recebi um balde de gelo da profissional, porque eu não sou nem uma coisa, nem outra.
Essa agente, contudo, me acendeu uma luzinha: a autopublicação. Falou que eu poderia pagar para uma editora pequena, a fim de que ela colocasse o seu selo na minha obra e o publicasse (mas sem grandes suportes para distribuição e divulgação), ou buscar os meios digitais para publicar meus livros. E, embora os e-books não tenham pegado nem aqui, nem na China, foi este o caminho que escolhi para lançar meus três títulos: Pluma, Um Miado Abandonado e Vestidinho Estampado.
Encontrei no Kindle Direct Publishing (KDP), da Amazon, um bom espaço. Não pago nada para estar ali, os royalties (direitos autorais) são muuuuito mais altos do que se eu lançasse por uma editora e eu sou totalmente independente para fazer o que quiser com meus livros. Sou a editora de mim mesma! Como uma lenhadora, suo a camisa escrevendo, revisando, editando, orientando o diagramador, pagando para alguém fazer a conversão digital (por enquanto, porque ainda vou aprender como se faz isso!), precificando, administrando promoções e, o pior, divulgando, o tempo todo, para obter algum resultado de venda.
Para alguém da área (e da era) dos impressos, estudar marketing digital foi o grande desafio para conseguir fazer com que meus e-books sejam lidos. Ainda assim, os resultados estão aquém do que almejo, mas em franca expansão, porque acredito que cada dia de trabalho é um degrau que subo rumo ao engajamento de novos leitores.
Lançar e-books é o que nós, autores em busca de um espaço, temos para hoje. Mas acredito que isso não deva ser olhado de forma negativa. É uma grande porta que se abre para muita gente (e, olha, tem gente ganhando bastante dinheiro com isso!). Basta ter coragem de encarar e, caso não tenha conhecimentos de produção editorial, um pouco de grana para pagar bons profissionais que deixarão o seu livro palatável. Para mim, a autopublicação no meio digital é ainda mais: um caminho interessantíssimo para o aprendizado! Eu sigo aprendendo e me surpreendendo. Em um ano, tenho três livros publicados (e já preparo outros). Que editora me daria essa chance? Por isso sigo em frente. E sugiro o mesmo a você, futuro autor. Tem tudo para dar certo!
*Escritora | Editora | Redatora | Produtora de conteúdo
Instagram: @ana_proa
Este artigo foi originalmente publicado no LinkedIn: https://www.linkedin.com/pulse/tá-lenha-para-os-novos-autores-ana-prôa/